Os directores de campanha dos dois partidos que mais subiram nas últimas eleições, o CDS/PP e o BE, aplaudem o formato que tornou os políticos coloquiais e a quererem ter piada. Mudando a percepção que muitos eleitores tinham deles. Uma "lufada de ar fresco" no panorama televisivo, o "Esmiúça os Sufrágios", dos Gato Fedorento, usou o humor para questionar os políticos e os pôr a nu perante audiências de milhões. O episódio mais visto, com o entrevistado Paulo Portas, registou 1.932 milhões de espectadores. Mesmo que os convidados soubessem de antemão os temas e não lhes fossem colocadas questões melindrosas, considera o crítico de televisão, Eduardo Cintra Torres, que questiona: "Foi feita alguma pergunta complicada ao primeiro ministro sobre o caso Freeport ou a licenciatura?". Nem o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, foi desafiado a explicar porque considera a Coreia do Norte uma democracia. Já Paquete de Oliveira enaltece "as perguntas inteligentes, só possíveis num tom humorístico, pois num registo sério o jornalista não tem coragem de as fazer". Para o sociólogo e Provedor do Espectador da RTP, "o programa foi bastante positivo" ao "desmistificar um pouco a seriedade e a eufemística política, do enrola, enrola e não diz coisa alguma". Segundo Jorge Costa, que dirigiu a campanha do BE, "o programa obrigou os políticos a assumirem uma coloquialidade que não é a sua". E "confrontou-os com a sua própria caricatura e com as críticas feitas nos sketches que antecediam a entrevista". A docente de Comunicação na Universidade do Minho, Felisbela Lopes, destaca que "o programa foi atractivo para os políticos por ter audiências". Alguns convidados adaptaram-se bem, diz, "por também eles terem um registo salpicado por traços de humor, como Marcelo ou Mário Soares, mas, noutros casos, foi perceptível a preocupação em fazer alguma musculação para se vergar ao imperativo do humor". Conclui: "O querer ser engraçado foi algo muito forçado e notou-se". Na mesma linha, Jorge Costa lembra que os bloquistas sempre usaram "a ironia e a sátira" nas campanhas eleitorais, sem crer que os políticos mudem de tom e de estilo devido à prestação nos Gato. "Há muita falta de humor e muita cara de pau na política portuguesa, pelo que será difícil haver uma mudança", opina. Felisbela Lopes corrobora que estas emissões "são ondas que passam e caem no esquecimento, não sendo assim tão estruturantes no modo de fazer política". Da mesma forma, "altera a percepção de que as pessoas têm de alguns políticos, mas não radicalmente". O último programa vai hoje para o ar com a entrevista a José Alberto Carvalho e Júlio Magalhães, directores de informação da RTP e da TVI, a que se junta o director de informação adjunto da SIC, Rodrigo Guedes de Carvalho.
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