Rosa Lobato de Faria deve ter ouvido os aplausos com que se despediram dela ontem, a meio da tarde, quando o caixão deixou a Igreja de Santa Isabel para entrar no carro fúnebre a caminho do cemitério dos Olivais, onde foi cremada. Ela que acreditava na reencarnação, ela que acreditava em tanta coisa, como no humor e no sorriso. E foi com um sorriso que se despediram dela tantas pessoas. Um sorriso da cor da Rosa: viçosa, alegre, envolvente. "Era uma mulher que quando se conhecia era impossível esquecer", dizia Tozé Martinho, que se cruzou com ela em tantos palcos dela - a televisão, o teatro, o cinema, a literatura. "Sim, um sorriso é a melhor forma de nos despedirmos dela." E, ontem, Lisboa estava num dia agridoce. Corria um vento acre que embaciava os olhos, mas a água parou no céu. O que dava um certo brilho aos sorrisos da despedida. Sorrisos entre aqueles que privaram com ela as várias plataformas de criação. Rui Veloso, Paulo de Carvalho e António Pinto Basto, música; Maria Rueff, José Wallenstein e Ana Padrão, teatro; Vítor de Sousa, Helena Isabel e Tozé Martinho, televisão; Mário Zambujal e o editor Manuel Alberto Valente, literatura. Ou entre aqueles que a viram do outro lado, como espectadores, leitores - os passeios, as janelas, as portas dos prédios, por todo lado homens e mulheres despediam-se da criadora transversal. Na missa, oficiada por José Tolentino Mendonça, houve poesia (lida pelo filho) e houve emoção. A reencarnação não anula a dor da ausência do corpo. "E porque poesia e porque adeus de todas as palavras escolhi dor" - assim termina o poema dela Pequenas Palavras. D. Duarte Pio, Maria Barroso, Mira Amaral, Catarina Portas, Rui Vieira Nery, Pedro Barroso, Leonor Xavier e Augustus foram outras das figuras que por lá passaram.
Fonte: DN
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