domingo, 21 de março de 2010

Nova peça no Teatro Maria de Matos

Nesta história não há heróis. Apenas pessoas comuns presas a hábitos, medos, desencantos. Nicolai Ivanov, melancólico, incapaz de se comprometer ou arriscar é o centro de um pequeno mundo, cheio de tensões dissimuladas, alegrias fingidas e amores falhados. "Ivanov", a primeira grande peça do dramaturgo russo, em cena no teatro Maria Matos, em Lisboa, até dia 27, pela Associação Cultural Truta, é um olhar ao mesmo tempo cru e terno sobre as fraquezas da condição humana. "Foi o mundo fechado em que vivem estas pessoas, a sua fragilidade, a banalidade das suas vidas, onde o bem e o mal se conjugam que me fez querer encenar esta história", conta Tonan Quito, o encenador da peça. Ivanov (Pedro Lacerda) é casado com Ana Petrovna (Rita Durão), mortalmente doente. A sombra desta morte ajuda a dissolver um amor já gasto. Em torno deles uma galeria de personagens tragicómicas, um médico (Raul Oliveira) refugiado na crença da sua superioridade moral, um velho conde bêbedo (António Fonseca), uma viúva rica (Carla Galvão) e carente, uma jovem apaixonada por Ivanov (Paula Diogo), entre outros. Por entre tensões disfarçadas em conversas de circunstância e festas constantes, todos eles vivem a tragédia de saberem que a verdadeira vida não é ali, mas que são demasiado cobardes para fugir. "A nossa vida é igual à destas personagens. São apenas pessoas a esbracejar para se manterem à tona", explica Tona Quito. Assumindo o uma dramaturgia clássica, onde o texto de Tchékhov prevalece sobre as interpretações, a peça vive na fronteira da tragédia e da comédia. A presença em palco dos Melech Mechaya, uma banda de música Klezmer (de raiz judaica do Leste europeu), cria uma ambiência de Carnaval triste que, como explica o encenador " foi inspirada em filmes como Amarcord, de Fellini e serve, sobretudo, para acentuar a alegria falsa daquelas pessoas". No final, sem força para partir ou mudar, é afinal Ivanov o único que toma uma decisão.
Fonte: DN

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