quinta-feira, 4 de março de 2010

TVI acusada de fazer gestão política de notícias do Freeport

"Há documentos sobre o Freeport que implicam o primeiro-ministro e não são postos em antena", afirmou ontem, quarta feira, Manuela Moura Guedes na comissão parlamentar de ética. A jornalista acusa a TVI de fazer "gestão política das notícias", após o fim do "Jornal Nacional 6ª". A ex-apresentadora do espaço noticioso suspenso pela administração em Setembro de 2009 afirmou perante os deputados que os documentos em causa "dizem respeito a pagamentos e depósitos na empresa Smith & Pedro, que esteve envolvida no caso. "A Direcção de Informação desvaloriza-os", assegurou. Em comunicado inserido ao final da noite no site da TVI, a Direcção de Informação assegurou que "neste momento não existe qualquer peça pronta sobre o caso Freeport, contabilizando oito notícias acerca do assunto, desde que o programa foi suspenso. "Se um dia existir, será emitida no tempo e espaço definidos por quem tem essa responsabilidade", afirmam os quatro membros da Direcção. Moura Guedes denunciou ainda supostas pressões sobre investigadores do "caso Freeport", através de telefonemas de assessores de José Sócrates. Referiu-se mesmo a uma inspectora da Polícia Judiciária de Setúbal, que é "muito permeável a eles". Confrontada com as características do "Jornal Nacional 6ª", disse nunca ter sido objecto de desmentidos ou condenações judiciais, porque tinha a preocupação de cruzar fontes e basear as notícias em documentos. "Não andávamos a fazer perseguição ao primeiro-ministro". "A ministra da Saúde foi proibida pelo primeiro ministro de ir à TVI", afirmou a jornalista, dando conta de sistemáticas recusas de José Sócrates em responder a questões colocadas pela equipa do "Jornal Nacional 6ª", atitude que levava outros membros do Governo a não prestarem declarações, quando solicitados. Sobre a suspensão do programa, garantiu ter resultado de instruções provenientes da Prisa, o accionista espanhol da Media Capital, proprietária da TVI. Ainda que nunca tenha obtido "qualquer esclarecimento formal da administração", Moura Guedes revelou que o administrador Bernardo Bairrão, anteontem ouvido pela comissão parlamentar, não concordava com a decisão, mas deu-lhe conta de que era irreversível. "Como é óbvio, teve o aval do Governo. Houve imposição do Governo". Segundo Manuela Moura Guedes, que chegou a aludir a contactos do Governo português com a Casa Real espanhola sobre o assunto, Juan Luis Cebrián, o "homem forte" da Prisa, terá dito a Pinto Balsemão estar "farto" dos telefonemas do primeiro-ministro. Também ouvido ontem pela comissão parlamentar, o presidente da Impresa não desmentiu esta versão. A jornalista traçou um paralelismo entre a suspensão do programa e a venda, em 2005, da Media Capital à Prisa, sustentando que esteve em jogo em ambos os casos. Isto porque, afirmou, há cinco anos o seu afastamento "era uma imposição", pelo que foi colocada "na prateleira". A audição de Moura Guedes suscitou uma forte reacção do deputado socialista Manuel Seabra - que a acusou de "tirar conclusões" e, depois, "polvilhar factos" que as sustentem. Mas justificou um pedido do PSD no sentido de que sejam ouvidas pela comissão mais quatro pessoas. Trata-se dos jornalistas da TVI Júlio Magalhães, Carlos Enes, Vítor Bandarra e Ana Leal.
Fonte: JN

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