Em jeito de reacção às observações críticas expressas pela reguladora relativas à atenção dada a Carlos Cruz, e mais concretamente às dúvidas colocadas pelo provedor, o director de Informação da RTP entende que "os acontecimentos da última semana relativos ao processo Casa Pia levaram a que se instalassem na opinião pública dúvidas sobre o funcionamento da justiça e da sua aplicação". Numa carta de resposta ao Provedor do Telespectador da RTP, José Alberto Carvalho considera que "a certeza serena de uma conclusão que se desejaria - em especial neste processo - não foi alcançada", pelo que é necessário debater "a administração da justiça". O director de Informação da RTP reagiu assim ao comunicado, divulgado na quinta feira, pelo Provedor do Telespectador da RTP, Paquete de Oliveira, que referiu ter recebido dezenas de mensagens a protestar contra a forma como a RTP tem tratado o julgamento e a sentença do caso. Em particular, entendem os telespectadores que contactaram o provedor, está a ser dado a Carlos Cruz, antigo profissional da RTP, um "tratamento preferencial" de defesa perante a opinião pública. Paquete de Oliveira, que se mantém em funções até à nomeação de outro provedor, discorda e lamenta que o tratamento do assunto "não esteja a obedecer a parâmetros de equidade, privilegiando, com efeito, o sr. Carlos Cruz, provavelmente por critérios editoriais". A isto, José Alberto Carvalho responde que "é obrigação do jornalismo suscitar o debate sobre a administração da justiça, pilar fundamental da democracia e do Estado de Direito". José Alberto Carvalho refere especificamente a "leitura da súmula do acórdão; os incidentes públicos entre magistrados e advogados; a não divulgação integral do acórdão; o sucessivo adiamento - por três vezes - da entrega desse documento à secretaria do tribunal e aos arguidos/condenados; as críticas e as interrogações que diversos agentes da justiça fazem das diversas fases do processo". Para o director de Informação da RTP, o debate sobre a administração da justiça "não pode, em nenhuma circunstância, ser confundido com qualquer intenção de produzir julgamentos mediáticos, seja em que sentido for". A Direcção de Informação da RTP - prossegue José Alberto Carvalho - "está ciente de que o assunto em causa suscita paixões". "Mas recordamos que procuramos ouvir sistematicamente diversos agentes envolvidos no processo - vítimas, advogados de acusação, magistrados judiciais e magistrados do Ministério Público", lê-se no documento, que está disponível no site da RTP, no qual acrescenta que alguns intervenientes não quiseram ou não puderam intervir no debate. No entanto, entende José Alberto Carvalho, "tal constatação não pode significar que a recusa de alguns leve ao silêncio de outros por si só". O director de Informação da estação pública de televisão garante ainda que "não foi facultado ao agora condenado Carlos Cruz qualquer oportunidade de se exprimir sem fundamentar a sua opinião" em nenhuma das suas intervenções na RTP (debates "Especial Informação" e "Prós e Contras" e "Grande Entrevista"). José Alberto Carvalho adianta que o trabalho da estação que dirige "não se esgotou ainda", pelo que, "nos próximos dias, novos trabalhos jornalísticos serão apresentados dando perspetivas diferentes e, muito provavelmente, divergentes sobre o processo Casa Pia".
Fonte: JN
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