Durante quatro meses, 12 concorrentes fechados numa casa e isolados do mundo eram observados 24 horas por dia por 26 câmaras e 48 microfones. Era o "Big Brother". Quando se estreou em Portugal, a 3 de Setembro de 2000, apenas oito anos depois do nascimento das privadas e seis após a chegada da televisão por cabo, gerou controvérsia. Uma década depois, mudou o posicionamento das estações no ranking das audiências, mas muito mais. "O mundo é que mudou muito", resume Teresa Guilherme, que conduziu quatro edições do programa com anónimos e duas com famosos, na TVI. "A porta da televisão abriu-se a todas as pessoas", aponta a apresentadora. "Foi a ascensão do cidadão comum", concorda Arons de Carvalho, ex-secretário de Estado da Comunicação Social e estudioso do meio. E foi o esbatimento da fronteira entre público e privado. "São os telemóveis, os cartões, as câmaras de vigilância", enumera Teresa Guilherme. "É a arquitectura das casas, que agora têm mais vidro, é a moda, que agora mostra peças da nossa intimidade", acrescenta Felisbela Lopes, especialista em assuntos de televisão. "O "Big Brother" acentuou isso", defende, para logo a seguir falar da imprensa: "Um jornal fez seis páginas sobre as férias de Cavaco; uma revista do DN mostrou os bastidores da vida de Passos Coelho desde as seis da manhã às oito da noite." "Agora, tratam um actor ou um cantor como um concorrente de um reality show", opina Teresa Guilherme. "A informação está mais tabloidizada. Mostra o acidente, o desastre, a vida deste e daquele", repara Arons de Carvalho. Outro efeito "inequívoco" do "Big Brother" é a diminuição da informação semanal nas televisões privadas, defende Felisbela Lopes. Em consequência disso, diz, os interlocutores são sempre os mesmos, não surgem novas opiniões e não há diversidade de temas. A existência de canais de informação no cabo não é suficiente para reparar esta lacuna, até porque, afirma, estão muito centrados em Lisboa. Para José Eduardo Moniz há mais: "A dificuldade por parte do Governo em viver com a liberdade de informação." Em contrapartida, porque "o BB funcionou como espécie de locomotiva da TVI", temos hoje nas novelas um produto muito forte, diz Felisbela Lopes. "A indústria da ficção desenvolveu-se e passa a ombrear com o que se faz lá fora, ao nível da autoria, realização, representação...", salienta José Eduardo Moniz, para quem a qualidade de produção é hoje muito maior, apesar dos "constrangimentos financeiros". Ao mesmo tempo que diminuiu a produção de formatos originais, segundo Arons de Carvalho, aumentou o número de programas baseados na lógica do BB. "São de certeza dezenas", esclarece Piet Hein Bakker, produtor que trouxe o género para Portugal. "Desde que não fira a sensibilidade do espectador não creio que se deva proibir", diz Arons de Carvalho.
Fonte: DN
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