"Foi no início de 1999 que o apresentei pela primeira vez em Portugal", recorda-se Piet Hein Bakker, um dos responsáveis por Portugal ter sido um dos primeiros países a estrear o "Big Brother". E apresentou-o a Emídio Rangel, que era director geral da SIC. Durante um ano, o formato esteve numa gaveta de Carnaxide, sem que o responsável da estação se decidisse a comprá-lo. "Era um formato mais austero. Era um ano numa casa em que tinham de fazer comida com os produtos da horta... Não foi feito em lado nenhum e a Endemol aligeirou-o", conta o então responsável pela produtora em Portugal. A SIC recusou-o à mesma e o produtor foi bater à porta de José Eduardo Moniz, que mandava na TVI. "Foi rapidíssimo. Mostrei de manhã e à tarde tinha o compromisso", conta Piet Hein, que lhe apresentou um resumo das imagens do programa na Holanda, o único país que já tinha estreado o "Big Brother". "Precisávamos de uma coisa que funcionasse como interruptor", conta Moniz, que na época liderava uma estação pobre, sem credibilidade e audiências. "Era inovador, tinha elementos desconhecidos relativamente ao que era tradicional e lógicas comportamentais que geravam controvérsia e eram capazes de atrair espectadores", analisa. Não havia muitos dados sobre resultados nas audiências", recorda Piet Hein. Mas Moniz acreditou e desembolsou cerca de um milhão de contos (5 milhões de euros). Entretanto, o programa estreou-se na Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Reino Unido. E, em pleno Verão do ano 2000, quando estava no cabeleireiro, Teresa Guilherme teve um pressentimento, daqueles que só ela sabe explicar, de que o seu regresso à televisão estava para breve. E, no dia seguinte, Piet Hein ligou-lhe e perguntou-lhe o que acharia de apresentar o "Big Brother". "Faltava um mês e tal. Acho que não fui a primeira escolha", diz. Houve mais nomes em cima da mesa, admite Piet Hein - até porque se pensou seguir o modelo espanhol e ter uma jornalista à frente do programa -, mas só o de Teresa Guilherme foi consensual. Chegou o dia 2 de Setembro. E 12 anónimos entraram naquela casa construída de propósito ao lado do estúdio da Venda do Pinheiro. Tudo gravado em segredo e emitido no dia seguinte, quase como um falso directo. Que agarrou os portugueses ao ecrã. Entre as 20h50 e as 23h20, a TVI teve em média 1,3 milhões de espectadores, mais cem mil que a SIC, habitual líder. "Saiu-me melhor que a encomenda", solta Teresa Guilherme, quando se lembra da trabalheira que tinha a apresentar e a preparar o programa. "Era difícil falar com pessoas que não me viam e que estavam numa situação de stress", explica. De tal forma que, a 19 de Outubro, Marco pontapeia a colega Sónia no peito. "Pensei logo: Acabou a festa. Mas o Piet Hein respondeu-me: Agora é que vai começar. Tínhamos os dois razão", lembra Teresa Guilherme. Nesse dia, em que Jorge Sampaio anunciou a recandidatura a Belém, o "Jornal Nacional" abriu com uma chamada para o dito pontapé. Resultado: a TVI conseguiu ter três programas a liderar o top de audiências - o compacto do "Big Brother", o "Jornal Nacional" e o "112" - e fez 40,7 de share, o seu melhor resultado desde a fundação, em 1993. "O pontapé foi um happening dentro do programa", desvaloriza José Eduardo Moniz. "Se o Marco não desse o pontapé, outra coisa teria acontecido", acrescenta Piet Hein. Mas, a partir daí, o panorama televisivo começou a mudar. A SIC perdeu audiências, a TVI ganhou audiências e, no balanço de 2001, a estação de Moniz já era líder no horário nobre e a segunda mais vista. "Acreditava que seria um sucesso, mas não esperava que fosse tão rápido", admite José Eduardo Moniz. A TVI encheu-se de subprodutos dedicados ao "Big Brother". "A emissão reflectia a importância que estávamos a dar ao formato", diz. E o programa acabou por servir como ponto de atracção para outros produtos da grelha. Nomeadamente, para o novíssimo "Jornal Nacional", apresentado por Manuela Moura Guedes, que arrancava à mesma hora que nos outros canais. "Um grande atrevimento", ri-se Moniz. E para as novelas nacionais, que começaram a ser emitidas durante a semana - em confronto com as produções da Globo. "Se o Rangel tivesse comprado o "Big Brother", a estação líder continuaria a ser líder. O BB teria sido uma pedrada no charco, mas não teria mudado o panorama da televisão", realça Teresa Guilherme. Mas Rangel não comprou, apesar de já ter dito que gostaria de o ter comprado só para o ter na gaveta e impedir que outra estação o adquirisse... e acontecesse o que aconteceu. Mais importante para o sucesso do que o pontapé de Marco e a química com Teresa Guilherme foi o casting, defende Piet Hein Bakker. "Os concorrentes são a chave de qualquer reality show", diz. E naquela casa conviveram verdadeiras personagens de uma novela, esta, da vida real. Desde a jovem que dizia que falar de sexo era como comer iogurtes, ao rapaz mimado e preguiçoso, passando pelo antigo militar que pronunciava órgias em vez de orgias e pelo alentejano que falava com as galinhas.
Fonte: DN
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