Todas as tramas da TVI são pensadas e escritas para encaixarem em 120 episódios, mas há mais de dez anos que acabam por nunca caber nesta medida. Umas novelas crescem mais, outras menos, mas todos os autores e actores sabem que vão ter de fazer um esforço extra para que o final chegue e que seja feliz. "Todas começam com 120 episódios, passando depois aos 160, consoante as encomendas", explica o director de Programas, André Cerqueira. "Espírito Indomável", a história da noite que conta com Diogo Amaral e Vera Kolodzig nos principais papéis, acabou de ser brindada com um aumento de 40 capítulos e a autora, Sandra Santos, já sabe como vai fazer este milagre da multiplicação dos enredos, sem, de preferência, perder audiências e alterar o fim da história que estava inicialmente pensado. "Estamos habituados a tornar as histórias ainda maiores, e quando isso acontece ficamos contentes porque quer dizer que os resultados justificam", explica. O truque reside, precisamente, em apostar nos actores que têm menos destaque na trama. De acordo com esta argumentista, que acabou de ganhar mais mês e meio de trabalho intenso, há "sorte" neste processo porque "há sempre muitas personagens e, com elas, muito material". Sandra Santos recusa a palavra "alongamento" porque isso "implica que a história pare". E o enredo tem de continuar a manter aceso o interesse do auditório. No entanto, qualquer alteração à história, decorrente de uma encomenda que pode ir dos 20 aos 60 episódios, e às vezes até aos 100, está sujeita ao olhar criterioso da Direcção de Programas do canal. "Fazemos um acompanhamento da história, há um departamento de controlo de qualidade quer na TVI, quer na Plural [produtora] para isso", explica André Cerqueira. Jura até que nenhum pedido apanha de surpresa os argumentistas. "Eles já estão preparados para as variações, sabem que as novelas são histórias abertas", avisa. Até hoje, a novela que mais cresceu teve direito a estar dois anos no ar. "Anjo Selvagem", com Paula Neves e José Carlos Pereira, contou 410 capítulos, ou seja, quase quadruplicou o tamanho original. Rui Vilhena, autor que acabou de estrear a novela "Sedução", que marca o regresso de Fernanda Serrano ao ecrã, tem sempre uma "carta na manga", seja ou não um prolongamento para a sua história. "Quando estamos a escrever a sinopse, numa fase inicial, já estamos a pensar o que poderemos ter", explica o argumentista, que enumera exemplos: "Escolho um personagem e crio novas ligações, que mexem com todo o elenco e acabam por o desestruturar. Em "Ninguém Como Tu", era o verdadeiro pai de um filho adoptivo. Em "Tempo de Viver", era uma nova revelação que tinha que ver com os protagonistas. Para esta nova novela também já tenho uma ideia, mas não vou revelar", afirma, garantindo que o fim da história é a única grande certeza definida à partida. Mas há outros factores que ditam a mudança de argumentos nas novelas. A actriz Margarida Marinho ficou grávida, aos 45 anos, enquanto rodava "A Outra". Tozé Martinho conta como mudou o rumo da novela da TVI: "A gravidez era de risco e tive de encontrar uma solução radical. A personagem morreu e tive de voltar atrás na história para ir buscar outra personagem, criando uma reaparição", revela. "Muitas das vezes, a solução está em voltar atrás para relançar uma história que não foi desenvolvida", diz.
Fonte: DN
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