quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os filhos que a SIC pôs no mundo

Uma filha que ganhou asas e seguiu o seu caminho. É assim que Alberta Marques Fernandes se sente em relação à SIC, estação que ajudou a fundar e a que deu rosto na emissão inaugural, faz hoje 18 anos. Foi lá que cresceu, apesar de ter sido na RTP que atingiu a maturidade. Deixou a Redacção da SIC em 2001, quando Emídio Rangel de lá saiu para ir dirigir a estação pública. Nove anos depois olha para trás e admite: "Vinha de uma empresa pequena e ágil, de uma estrutura vencedora, com pessoas criativas e atrevidas, e cheguei à RTP com alguma arrogância infantil, achava que sabia tudo." Depois, percebeu que não era bem assim. "Precisei de crescer para amadurecer mais." Garante que não é saudosista, mas diz que ter estado no grupo de fundadores da SIC é um orgulho e um privilégio. Alberta Marques Fernandes foi uma das dez estagiárias, todas mulheres, recrutadas por Emídio Rangel, então director-geral da SIC, para integrar a Redacção. Iniciar a carreira e, ao mesmo tempo, montar uma estação de televisão era tudo o que podia querer. Todos aceitaram ter apenas um dia de folga semanal. E todos fizeram de tudo um pouco. Notícias, reportagens, entrevistas, mas também acartar cabos, montar tripés... o que fosse necessário. "Foi de facto maravilhoso", diz, enquanto divaga sobre o "brilhozinho" nos olhos que ainda hoje têm as pessoas que fizeram parte dessa equipa. Um espírito que, defende, já não existe em Carnaxide. "É diferente montar um projecto", analisa. "As coisas não se repetem. As estruturas mudam, nós também. Já não tenho 24 anos, sou mãe. A minha entrega não poderia ser a mesma", diz. Ao contrário de Alberta Marques Fernandes, Paulo Camacho "já tinha algum nome" quando chegou à SIC. Vinha do Expresso, era um dos mais velhos da Redacção, apesar dos tenros 33 anos, e não fazia ideia de como se fazia televisão. "Era engraçado porque os mais novos olhavam-me como exemplo e eu sentia-me posto à prova", lembra-se o actual director de Comunicação Externa da Zon. Feliz com o que faz actualmente, não sabe se voltará ao jornalismo, mas tem a certeza de que tão cedo isso não acontecerá. "O jornalismo actual não é o que mais gosto de fazer. Não há dinheiro para o jornalismo que gosto de fazer", explica. Refere-se a grandes reportagens, investigação. "Nisso, a SIC continua a fazer bom jornalismo. Não no jornalismo diário." Não faz ideia de como estão as audiências, raramente vê televisão generalista e diz que não tem o distanciamento necessário para analisar a SIC de agora. "Foi a minha casa durante 15 anos, tenho lá muitos amigos, é como a minha família." Para Fátima Lopes também o foi até Julho passado, quando decidiu mudar-se para a TVI, onde apresenta "Agora é Que Conta". "Devo à SIC tudo aquilo que hoje sou profissionalmente. Se não fosse a SIC, e mais concretamente o Emídio Rangel, a descobrir que eu tinha algum talento para comunicar, provavelmente a minha vida teria sido outra, completamente diferente", admite a apresentadora, que não estranha que haja "filhos" da SIC em todo o mundo. "A SIC sempre foi uma escola de talentos, uma fábrica de gente competente que, como se sabe, está espalhada por todo o lado. E acredito que a SIC vai continuar a saber formar gente com competência", diz. Mas reconhece que isso acontece igualmente na RTP e na TVI. "Quando a SIC começou, muitos dos profissionais que arrancaram com o projecto vinham da RTP. A TVI também já formou muitos profissionais que estão a trabalhar para outros canais." Numa nova etapa profissional, Fátima Lopes elogia a capacidade de empreender, inovar e ousar que a estação teve. "A SIC foi assim durante muitos anos. Hoje, esse papel é mais da TVI. Estamos numa fase em que é a TVI que tem esse papel que já foi da SIC." Ricardo Pereira já trabalhou para as três estações, mas admite que a sua carreira está muito "conectada" à SIC. "Foi importante no meu desenvolvimento enquanto actor e apresentador", diz do Brasil, a preparar-se para começar a gravar "Insensato Coração", mais uma novela da Globo. A parceria entre as estações portuguesa e brasileira contribui para isso, mas Ricardo Pereira salienta que são duas televisões independentes. "Se estou na Globo, é porque a Globo quer que eu esteja." Mas a SIC sempre o apoiou. Desde o primeiro minuto, quando foi escolhido num casting para protagonizar "Como Uma Onda". "Não era um actor da SIC. Tinha acabado de fazer uma novela na TVI, vinha de quatro novelas lá, mas a SIC, como parceira da Globo, disse-lhes que eu seria uma boa escolha." Com uma carreira em Portugal e no Brasil - e a dar os primeiros passos na França -, Ricardo Pereira também se iniciou como apresentador a título regular no "E Especial", ao lado de Sofia Cerveira. Por isso, vê a SIC como a sua "casa", o local onde tem crescido profissionalmente e onde vê mais pessoas "com vontade de mudar, de inovar, de dar uma nova dinâmica" à estação. E há idade melhor para o fazer que aos 18 anos? "É quando damos o grito do Ipiranga."
Fonte: DN

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