No ano passado, com a digressão do monólogo de Manfred Karge, "De Homem para Homem", Beatriz Batarda subiu, sozinha, ao palco do Centro Cultural do Cartaxo. Sentiu-se em casa, gostou da equipa e ficou decidido, ali mesmo, que a sua próxima aventura iria passar pelo Cartaxo. A promessa concretizou-se sexta feira, embora desta vez ela não esteja no palco. "Olá e Adeusinho", com texto de Athol Fugard, é o primeiro espectáculo encenado pela actriz que conquistou o público em filmes como "Quaresma", de José Álvaro de Morais ou "Noite Escura", de João Canijo e que foi condecorada, tal como outras figuras do teatro, pelo Presidente da República. Apesar de estar longe do palco, sentada a uma mesa no centro da plateia, Beatriz Batarda continua a ser actriz. "Está tudo tranquilo aí atrás?", pergunta, antes de dar ordem para que as luzes se apaguem e o ensaio comece. "Enjoy." Divirtam-se, diz ela aos actores. Beatriz Batarda não é uma encenadora como as outras. De vez em quando, nos ensaios, contam os actores, saltava para o palco para mostrar como gostaria que fosse. "Mas é porque não sabia explicar de outra maneira...", desculpa-se ela. Mais do que impor a sua forma de fazer, Batarda tentou ouvir os actores e partilhar com eles esta experiência de, pela primeira vez, estar a encenar uma peça. "Como actriz, ela conhece o processo por dentro e, por isso, estabelece objectivos muito concretos. Mas também está muito atenta ao que nós precisamos", conta Catarina Lacerda. Dinarte Branco corrobora e até revela o quanto ficou surpreendido perante um método tão aberto: "Às vezes pensava: partindo tanto dos actores, acreditando tanto em nós e naquilo que temos para dar, será que vamos lá? E, bem, cá estamos." Os ensaios decorreram ao longo de oitos semanas na sala da Cornucópia que se juntou como co-produtora do projecto. "Tivemos imensa sorte", admite Batarda. Depois de ter escolhido a peça, descobriu que Luís Miguel Cintra já a tinha encenado e interpretado, ao lado de Zita Duarte, e, assim, puderam usar a mesma tradução, de Jaime Salazar Sampaio. Este é um texto que, "apesar de ter um lado lúdico", não é propriamente fácil. É tragicómico. "Olá e Adeusinho" passa-se em 1965, em pleno regime de apartheid, numa cidade junto ao mar chamada Port Elisabeth. Após 12 anos fora de casa, Ester regressa e reencontra o irmão, Johnnie. O confronto entre duas formas de viver e de pensar é violento. "O texto é muito duro e codificado", confirma a encenadora. "Trabalhámos muito a questão da identidade, as contradições internas e as máscaras que cada um usa para se defender do mundo, seja na África do Sul nos anos 60 ou noutro qualquer lugar do mundo hoje em dia." Com cenários e figurinos de Cristina Reis, depois do Cartaxo, "Olá e Adeusinho" passará por Torres Novas, Fafe, Bragança, Estarreja, Lisboa (na Cornucópia de 6 de Maio a 6 de Junho), Faro e Beja.Fonte: DN
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