terça-feira, 27 de abril de 2010

Simone de Oliveira e Carla Chambel juntas no teatro

Desde a primeira aparição de Carla Chambel em palco que se adivinha a desgraça. E ela virá. Em "Jardim Suspenso", texto com que Abel Neves ganhou o Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva, a actriz é Luzia, uma jovem que ama e que, na iminência de perder o seu amor, decide morrer. Ajudada pela avó Mariana, interpretada por Simone de Oliveira. O espectáculo, que estreia dia 29, às 21h45, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, tem direcção de Alfredo Brissos e propõe-nos uma viagem dolorosa ao mundo dos afectos, como nos diz o encenador. "Quando o Diogo Infante me convidou para dirigir o espectáculo, pus-lhe apenas uma condição: gostar da peça", recorda. "E gostei, desde o primeiro momento. Esta é uma peça sobre afectos e é inevitável que cada um de nós se reveja aqui: já todos passámos por situações de perda, por amores não correspondidos, pelo desmoronar dos nossos ideais." Num cenário belíssimo (de Maria João Castelo), que reproduz um jardim de areias brancas que, em muitos momentos da acção, nos parecerá mais um deserto (enquanto lugar de privação, delírio e sofrimento), acompanhamos a longa viagem para a morte de uma jovem perturbada – interpretada por Carla Chambel – a quem a família não consegue compreender. A avó (Simone de Oliveira), porém, compreende. E aceita que a neta queira morrer, por amor. A actriz – e também cantora – diz que este é o papel mais difícil da sua carreira. "Já passei por muitas agruras na minha vida e esta peça traz ao de cima várias memórias dolorosas", confessa. Carla Chambel, cuja personagem a obriga a uma rápida transformação física e psicológica – até à degradação total, por inanição – diz que, ultrapassada a fase dos ensaios, a assusta apenas ter de mergulhar no abismo todas as noites, mantendo a autenticidade. "A proposta do encenador é a de trabalhar a partir das emoções, o que faz sentido nesta peça. Agora tenho defender o papel tecnicamente, ou seja, aceitar que não há rede, entregar-me, não ter vergonha de ser ridícula." No limite da exposição emocional, a actriz interpreta uma psicótica afectiva, acompanhada em cena por um elenco que Alfredo Brissos diz ter escolhido cuidadosamente: "Só o Manuel Coelho e a Simone de Oliveira me foram sugeridos pelo Diogo Infante. Os restantes, escolhi eu." A saber: Cármen Santos, Carlos Oliveira e Luciana Ribeiro. No cômputo geral, "Jardim Suspenso" é um espectáculo arriscado, que se joga totalmente na concentração dos actores – sobretudo da protagonista – e na sua capacidade de construir uma família credível. E apesar de estar classificado para maiores de 12, estamos em presença de uma proposta de grande intensidade dramática. Não é em vão que Alfredo Brissos fala de psicodrama a propósito deste seu espectáculo.
Fonte: CM

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