quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nova peça em cena hoje com Filomena Cautela

"A aldeia de Vilamaninhos é Portugal, é Portugal à espera de Godot", afirma Cucha Carvalheiro, que coloca em palco a terra que Lídia Jorge retratou no seu primeiro livro, "O Dia dos Prodígios". Agora que passam trinta anos sobre a publicação da obra, a encenadora homenageia a data colocando em palco (numa co-produção com a Comuna Teatro de Pesquisa) um texto que considera ser "uma extraordinária metáfora de Portugal, um país preso aos seus arcaísmos, um país que não se liberta". Um dos personagens levanta-se do chão e diz: "Isto é uma história. Sim. É uma história." É a história de uma aldeia algarvia perdida no tempo, esquecida pelo mundo e quase esquecida do mundo. Uma aldeia onde um dia uma cobra ganhou asas e fugiu da morte, uma mulher teceu um dragão que queria escapar ao tecido, onde um soldado anunciou a revolução a um povo que queria antes um milagre. Optando por sublinhar o lado poético e lírico da narrativa, Cucha Carvalheiro compõe, em torno de uma árvore de galhos nodosos e retorcidos, que cria no espaço uma atmosfera onírica, um conjunto de pequenas narrativas, que funcionam como quadros da condição humana. A jovem virginal Carminha (Filomena Cautela) à espera de um grande amor, a sua mãe (Maria Emília Correia), uma mulher presa ao luto da juventude perdida. Jesuína Palha, guardiã das tradições e dos mitos da aldeia. Esperancinha e José Jorge aguardando os filhos que partiram. Branca, a mulher triste e brutalizada pelo marido, homem rude que sabe falar com os bichos mas não com as pessoas. Embora o fulcro da narrativa seja o realismo mágico, ecoam traços da história política de Portugal evocados no soldado que parte para a Guerra Colonial, no coronel brutal ou no jovem do MFA, todos interpretados por Diogo Morgado que se desdobra aqui em três papéis diferentes. Um dia, o universo claustrofóbico de Vilamaninhos é abalado por uma cobra que levanta voo. Esse acontecimento, que dá a todos o sentimento de terem vivido algo extraordinário, torna o mundo exterior ainda mais desinteressante. E quando um soldado vem anunciar uma revolução "na cidade", Jesuína Palha pergunta-lhe apenas "porque é que a cobra ganhou asas?" "Vivemos ainda nesse mundo fechado sobre si próprio, mas que acha que o bom é o que está lá fora. É assim no País e no teatro", declara Cucha Carvalheiro. "O Dia dos Prodígios", cujo elenco "foi composto por afinidades e cumplicidades" - diz a encenadora -, conta com nomes como Carlos Paulo, Cristina Cavalinhos ou Luís Lucas, além da apresentadora de televisão Filomena Cautela, que Cucha Carvalheiro considera "uma actriz muito promissora".
Fonte: DN

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