terça-feira, 14 de setembro de 2010

Uma festa para homenagear António Feio

"Se isto der para o torto, vou ter pena de deixar quilos e quilos de coisas. Tudo aquilo que é bom na vida." Por exemplo: boiar em águas quentes, apanhar sol, beber uma imperial, comer caracóis ou tripas à moda do Porto. "O meu carro. As guitarras. A casa... Sou apegado às coisas que me dão prazer. Já nem falo dos meus filhos, da família." Era assim que falava António Feio, semanas antes de morrer no dia 29 de Julho, nas suas conversas com Maria João Costa. Pouco depois do actor tornar a doença pública, a editora Livros d'Hoje propôs-lhe escrever um livro. Não seria bem uma biografia, seria mais um testemunho. Começaram a fazê-lo juntos, reunindo conversas gravadas, textos do próprio e depoimentos de outros. "Durante todo o processo de preparação do livro, nunca me passou pela cabeça a ideia de não podermos contar com a sua presença para festejar a chegada do mesmo ao mercado", escreve Maria João Costa no prefácio de "Aproveitem a Vida", o livro que está à venda desde o dia 1, mas cuja festa de lançamento só se realizou ontem, às 21h30. O actor estava de tal forma optimista que foi ele mesmo que organizou esta festa. Escolheu o palco do Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, convidou amigos, desafiou-os a cantar, a discursar e a representar. "Era assim que ele queria que fosse feito o lançamento do livro, não um lançamento formal, mas um espectáculo sobre a vida dele", explicou à Lusa Sandra Faria, da UAU, a produtora que acompanhou Feio nos últimos anos e que se tornou não só sua amiga como um enorme apoio durante a doença. "Será um espectáculo informal, feito com amigos e para amigos e para o qual não serão vendidos bilhetes, não haverá lugares sentados e a que só se terá acesso através de convite." Antes desta "espécie de lançamento", porém, a UAU vai homenagear António Feio: o camarim nº 1 do Auditório dos Oceanos, utilizado pelo actor nos vários espectáculos realizados neste espaço, receberá o seu nome, sendo descerrada uma placa comemorativa. "Aproveitem a Vida" é, como diz Maria João Costa, um livro de auto-ajuda. Com depoimentos das filhas Bárbara e Catarina, dos actores José Pedro Gomes e Jorge Mourato, da produtora Sandra Faria e dos médicos Nuno Gil e Isabel Neto, o livro é quase todo narrado na primeiro pessoa. António Feio fala um pouco da sua vida - dos pais, dos tempos de Lourenço Marques, das mulheres que amou, de como se tornou actor - e arruma a carreira e os milhares de espectadores que os seus espectáculos tiveram em meia dúzia de páginas. Dedica mais espaço a falar de como descobriu que sofria de cancro no pâncreas, como lidou com a doença, o que é que mudou na sua vida no último ano e meio. "Se há algumas coisas boas que a doença me trouxe, uma delas foi a possibilidade de rebobinar a minha vida", escreve. Por isso, fala aqui dos sonhos que concretizou e dos que deixou por cumprir, do amor pelos filhos, da importância do apoio que teve (e reproduz algumas mensagens recebidas no Facebook de pessoas quem nem sequer conhecia) e de como é essencial aprender a falar sobre o cancro e a encarar a doença. "Sou um doente de risco", diz, logo na introdução. "Foi-me diagnosticada uma doença que se revela fatal na maioria dos casos." "A mensagem que quero deixar às pessoas é que se há um problema é preciso resolvê-lo da melhor forma, há que não ficar quieto, há que tentar de tudo primeiro, não desistir." E rir até ao fim.
Fonte: DN

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