quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como "Meu Amor" ganhou um prémio

É uma distinção que poucos poderiam prever. A novela da TVI, "Meu Amor", estava nomeada para os Emmys Internacionais, que premeiam o que de melhor se faz em televisão, e acabou mesmo por vencer na categoria de Melhor Novela Internacional. A Academia de Televisão, Artes e Ciências Televisivas dos EUA escolheu a produção portuguesa entre mais de cem países a concurso. "Não estava de todo à espera. Como costumo dizer, tinha 33 por cento de esperança. Quando ouvimos o anúncio, a reacção foi de incredulidade: ''Somos nós!''", disse ao i o autor do argumento, António Barreira, em directo de Nova Iorque, onde decorreu a cerimónia. Mais do que um prémio para ostentar na prateleira de honra da Plural, a produtora da novela da TVI, o Emmy é acima de tudo um reconhecimento da evolução da ficção nacional. Pelo menos é essa a convicção das fontes contactadas. "A nomeação já era uma vitória, um reconhecimento mundial da ficção portuguesa. Fomos escolhidos entre 120 países, uma coisa de dimensão gigantesca. Por isso digo que chegar aos três nomeados já era uma vitória", congratulou-se António Barreira. No ar durante mais de um ano, entre 19 de Outubro, data da estreia, até ao último episódio, a 23 de Outubro deste ano, a novela contou com as participações de Nicolau Breyner, Alexandra Lencastre, Margarida Marinho, Rita Pereira e Paulo Pires, entre outros. "Meu Amor" relata a história de três mulheres com os seus dilemas e casos amorosos. "O ponto de partida da história é uma sucessão de acidentes de avião que aconteceram na altura. Pensei que seria interessante começar assim, com um desastre aéreo que alterasse a vida de várias pessoas. Por outro lado, a novela é um retrato de Lisboa, de uma cidade moderna, mas também do seu lado mais bairrista", explica o autor, que depois de aceitar o desafio lançado pela TVI passou um ano mergulhado no projecto. "Escrevemos cerca de 240 guiões, qualquer coisa como 50 ou 60 páginas por dia. Foram escritos a oito mãos, com André Ramalho, Elisabete Moniz, Mariana Alvim e Sara Simões. E tive a sorte de ter um coordenador de projecto com quem tive imensas afinidades." Produzida pela Plural Entertainment, responsável pelas novelas "Sentimentos", "Deixa Que Te Leve" ou "Olhos nos Olhos", "Meu Amor" conseguiu destacar-se entre o vasto portfólio da produtora, tornando-se a primeira série portuguesa a ser nomeada - e a vencer - um prémio como os Emmys. "Dá um grande alento não só à ficção nacional como à própria televisão, um reconhecimento importante do que se faz a nível de novelas em Portugal", acredita Emídio Rangel, um dos principais protagonistas do aparecimento das televisões privadas no nosso país. "Os portugueses não são mais estúpidos do que os outros povos. Antigamente não sabíamos o que era produzir uma novela, nem se fez grande esforço nesse sentido. Quando a RTP tinha o monopólio, havia um exclusivo de três novelas da Globo. Com o aparecimento das televisões privadas, deu-se uma grande evolução. A NBP teve um papel determinante nessa evolução, quer a nível de guionistas, técnicas e das próprias histórias", acredita Rangel. Paulo Pires, um dos protagonistas de "Meu Amor", partilha a opinião, acrescentando as vantagens que este prémio pode trazer. "Além do reconhecimento, é sinal que os mercados internacionais estão atentos ao que se faz em Portugal. Neste momento há um foco sobre nós, este prémio acaba por ser um excelente cartão de visita", diz o actor, manifestando, contudo, a sua surpresa perante a atribuição do prémio: "Foi completamente inesperado. Matematicamente sabia que era possível, mas sempre pensei que fosse a Argentina a vencer". Além da produção portuguesa, estavam ainda nomeadas as concorrentes "Dahil May Isang", das Filipinas e "Ciega a Citas", da Argentina. E agora? Poucos poderão prever com certeza as consequências deste prémio. Mas, além de um estímulo para actores, cenógrafos, produtores, guionistas e técnicos, é consensual a opinião de que um Emmy pode abrir as portas do mercado internacional. A começar pelo autor: "Acredito que isto nos possa alargar horizontes, no que respeita à exportação de novelas, formatos, guiões, ideias. A ficção nacional tem crescido nos últimos anos. Portugal não tinha tradição de novela, mas há uma evolução muito em termos de actores, cenógrafos, decores guionistas", disse António Barreira. Embora reconheça tal evolução, o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres faz uma análise mais contida do antes e depois do prémio. "Ainda não estamos ao nível da Globo, embora tenha havido um crescimento grande a nível das histórias e dos actores", afirma. Já Emídio Rangel mostra-se mais optimista em relação ao futuro, agora que Portugal conquistou alguma atenção internacional: "É uma questão de saber explorar novos mercados. Se a Globo está na Rússia e no Oriente, não tenho dúvidas de que Portugal também pode estar."
Fonte: i

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