sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

25 anos de "Duarte e Companhia"

Se há uma série de culto portuguesa, ela é, sem grande margem para dúvida, "Duarte & Companhia". Fez 25 anos que o formato estreou, marcando uma geração de espectadores que ainda hoje a evoca de variadas formas. O dia 6 de Dezembro de 1985 entra para a história da televisão portuguesa por ser a data de estreia de "Duarte & Companhia" na RTP. A dupla de detectives privados, protagonizada por Rui Mendes e António Assunção, juntava miúdos e graúdos à frente do televisor e a todos arrancava arrebatadas gargalhadas, com as situações rocambolescas em que se viam envolvidos. "Talvez não seja a única (série de culto), mas para a geração que cresceu nos anos 80 é, sem dúvida algo muito especial. O Herman já tinha operado uma revolução com "O Tal Canal", mas o "Duarte e Companhia" tinha um tipo diferente de arrojo", explica o humorista Nuno Markl, fã assumido da série. E conta porquê, nas respostas às questões que o JN lhe colocou por e-mail: "É, possivelmente, o mais próximo que Portugal teve de uma loucura série B. Era uma série destemida, sem medo do que pudesse falhar e que tentava tudo. Era um tempo em que se ousava na televisão portuguesa e a ousadia era recompensada pelo público. Hoje ninguém arriscaria uma coisa assim, estamos numa triste era de jogar pelo seguro, na TV". Frases como: "Eu não sele chinês, eu sele japonês", ou os eficazes murros do malfeitor Rocha (António Rocha) ainda hoje estão muito presentes na memória daqueles que cresceram durante a década de 80 do século passado e que agora evocam a produção, realizada por Rogério Ceitil, de diversas formas, como por exemplo uma página na rede social Facebook que já conta com mais de 12 mil fãs. Em poucas linhas, Duarte era o chefe, Tó o ajudante, que preferia ler o jornal "A Bola" a enfrentar o perigo, Joaninha (Paula Mora), a secretária e também a "cavalaria" pois era a única com força suficiente para socar os adversários. Da equipa fazia também parte o carro, um Citroën 2 Cavalos, vermelho. Invariavelmente, em cada caso, estavam envolvidos dois grupos de criminosos. Um, liderado por Átila (Luís Vicente), o outro, por Lúcifer (Guilherme Filipe) cuja ambição era fazer parte da máfia. Além destes, a ciumenta mulher do detective, Emma (Ema Paul), e a mãe desta Sogra (Fernanda Coimbra) também não lhe facilitavam a vida. Muito antes da expressão "girl power" se ter generalizado, estas duas personagens e Joaninha foram percursoras do "poder feminino" pela maneira como batiam em toda a gente. Na altura, Nuno Markl ficava fascinado pelo lado "quase de desenho animado" da série. "Hoje, adoro a sede de inovação e de total e completa inconsciência que ali está! Pessoalmente, influenciou-me muito. Quando co-escrevi a série "Paraíso Filmes", para o António Feio e o José Pedro Gomes, houve ali alguma loucura à "Duarte e Companhia". Não foi consciente; foram coisas que cá ficaram para sempre. De vez em quando sonho que alguém me convida para escrever o remake. Seria uma honra!", prossegue o também autor, que em Maio dedicou à série, de 37 episódios, divididos por cinco temporadas, uma das edições de "Caderneta de Cromos" na Rádio Comercial. Vinte e cinco anos depois, "Duarte e Companhia" não podia estar mais actual. Senão vejamos, viviam-se os efeitos da crise de 1983 que levou à intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) no país. Poucos eram os que tinham dinheiro, os criminosos chegavam ao ponto de não ter dinheiro para comer. Fugir ao IVA era prática corrente.
Fonte: JN

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