sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Carlos Pinto Coelho 1944 - 2010

O jornalista Carlos Pinto Coelho, que apresentou, durante nove anos, o magazine cultural "Acontece", faleceu, quarta feira, com 66 anos. O corpo do comunicador vai estar, esta quinta feira, a partir das 20 horas, no Palácio Galveias, em Lisboa. Aconteceu de forma inesperada. Carlos Pinto Coelho sucumbiu devido a problemas cardíacos. O autor do "Acontece", telejornal cultural de maior longevidade na televisão pública, faleceu depois de uma intervenção cirúrgica à aorta, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa. O jornalista estava a gravar um programa para a RTP Memória quando se sentiu mal. O jornalista era tratado pelo nome do programa que o mediatizou, era o "Senhor Acontece". "Morreu um libertino numa altura em que cada vez temos menos liberdades". Se o magazine cultural "Acontece" ainda estivesse no ar no dia em que morreu o polémico escritor Luiz Pacheco, Carlos Pinto Coelho tê-lo-ia anunciado desta forma. Mas em Janeiro de 2008, o "Acontece" já não acontecia diariamente na RTP2 há cinco anos. Para "luto intenso, mas não prolongado" do seu autor e apresentador. O epitáfio que escolheria para o autor de "Textos Malditos" cabe, curiosamente, na perfeição no comunicador que era também jornalista que era também fotógrafo. Carlos Pinto Coelho, comendador da Ordem do Infante D. Henrique (2000) e oficial da Ordem das Artes e das Letras de França (2009), jornalista várias vezes premiado, não era um libertino no sentido estrito do termo ou de Pacheco; era libertino num sentido mais lato, eventualmente mais poético, no sentido de eleger o belo como fonte de prazer. Foi isto que fez a vida toda ao defender, como poucos, a cultura em Portugal. Ao defender, fazendo. Coisa rara. O "senhor Acontece" tem uma longa história antes do programa que o popularizou - no Diário de Notícias, como repórter; no Jornal Novo, como co-fundador; na RTP, onde desempenhou vários cargos, desde director de informação a director de programas - e uma história igualmente longa, longe dos holofotes, depois de o terem afastado televisão, onde trabalhou durante 23 anos. O "Acontece", por exemplo, continuou a ser emitido todas as semanas em 92 rádios nacionais. E os livros adiados começaram, nos últimos anos, a ver a luz do dia. No ano passado, encabeçou também a candidatura para o quinto canal de televisão. O Telecinco SA, como se apresentava, era constituído, entre outros, por Ana Paula Rangel, filha de Emídio Rangel, e pelo jornalista David Borges. Mas não era o ecrã da televisão que lhe fazia falta - "Não me faz falta nenhuma. Aquela ideia que se tem de que quem apareceu todas as noites na televisão fica muito triste, comigo não aconteceu", afirmou em 2008 numa entrevista -; o que lhe fazia falta, o que realmente o preenchia, era o ecrã da máquina fotográfica. A esse não resisto dia nenhum", confessou. "Não há dia nenhum que chegue à minha varanda do Alentejo e olhe para o céu - e o céu todos os dias está diferente - em que não tenha de ir procurar a minha câmara fotográfica, porque desta vez", riu ao dizer isto, "desta vez é que estas nuvens são as melhores de sempre". "A esse não resisto dia nenhum", confessou. Pinto Coelho deixou também a sua impressão digital em África, onde cresceu, e definitivamente a mãe África nele. Mas quando lhe perguntámos se era lá que estava o seu coração, negou. "Sou um homem sem pátria, sem terra, sem raiz, sem sítio, um homem do tempo, do dia, do momento. Corri mundo, conheci muita gente e muita coisa que me enriqueceu. Não é aqui, onde estou de passagem, que tenho o meu coração. Tenho-o no sítio onde estou, no momento em que estou. E não sei qual será o último e onde estarei quando morrer."
Fonte: JN

Sem comentários: