quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Espectáculo de teatro com Pedro Caeiro

Estreia dia 27 o novo espectáculo do Teatro do Vestido, jovem companhia que desta feita escolheu o tema a casa para construir um espectáculo que volta a primar pela grande proximidade com o público, pela frescura e pela criatividade transbordante. Ao entrar no Auditório do Instituto Franco-Português, o espectador estranha. Em vez de se sentar, como de costume, na plateia, é convidado a subir à cena para partilhar o palco com os actores. Senta-se numa mini-plateia improvisada, em cima de um palco semi-vazio: à esquerda, o esboço de uma sala, decorada com móveis antigos; à direita, apenas uma cadeira. E a acção começa. Uma mulher (Joana Craveiro) e um homem (Pedro Caeiro) falam-nos de si próprios e das suas memórias, falam-nos do que é estar em casa. Desde a casa em que nasceram até àquela que agora habitam, desde a casa ideal, dos seus sonhos, à casa real que lhes dá problemas e se torna, pelo contrário, lugar de pesadelo. Ao longo do espectáculo, que dura cerca de 70 minutos, tornamo-nos subitamente conscientes de todos os clichés associados à casa – expectativas de felicidade, de segurança, de conforto –, reavaliamos a casa enquanto espaço de fantasia por excelência, lugar onde nos resguardamos de olhares alheios para poder brincar ao outro. No palco, a fantasia materializa-se quando as memórias da personagem se cruzam com a teatralização do enredo do romance "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, com Joana Craveiro a protagonizar momentos verdadeiramente hilariantes. Como sempre acontece nos trabalhos do Teatro do Vestido, cujos textos são construídos a partir das improvisações dos actores, o espectáculo é uma sequência de monólogos ou diálogos delirantes, como que retirados de um sonho ou como se os intérpretes estivessem a dizer o que lhes vem à cabeça, em regime de livre associação de ideias. Como se estivéssemos a assistir a uma sessão de terapia ou a uma brincadeira de crianças. Como, para além do mais, os actores não se fixam numa só ideia mas antes lançam da boca para fora uma torrente aparentemente inesgotável de ideias diferentes, o resultado é infinitamente variado e sempre interessante. Com direcção de Gonçalo Alegria – de quem partiu a escolha do tema e a selecção dos textos – o espectáculo é garantia de um serão diferente. Haverá uma história para contar, no fim do espectáculo? Aquela que o espectador conseguir ir construindo na sua cabeça. E que, necessariamente, se cruzará com as suas próprias memórias, com as suas próprias expectativas face à sua casa. A ideal e a verdadeira.
Fonte: CM

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