quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Reacções à morte de Mariana Rey Monteiro

Ruy de Carvalho: O actor Ruy de Carvalho lamentou a perda de "uma grande senhora, uma grande actriz e uma grande amiga", que disse recordar "com muita saudade".
Diogo Infante: O conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II e o seu director artístico, Diogo Infante, lamentaram hoje a morte de "uma grande actriz do teatro português e uma referência artística e ética incontornável". "Ficará indissociavelmente ligada ao Teatro Nacional D. Maria II, onde iniciou a sua carreira em 1946, na Companhia de seus pais, Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, na peça "Antígona", de Sófocles, adaptada por Júlio Dantas", sublinhou o D. Maria II, em comunicado hoje enviado à Lusa. "Nesta sua casa, seguiram-se muitas outras notáveis interpretações em grandes textos da dramaturgia universal", prosseguiu, destacando "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare, "Santa Joana", de Bernard Shaw, "Um Elétrico Chamado Desejo", de Tennessee Williams, "O Pecado de João Agonia", de Bernardo Santareno, "Hedda Gabler", de Ibsen, e "Sábado, Domingo, Segunda", de Eduardo de Filippo, que foi a sua última participação no palco do D. Maria II. O conselho de administração e o director do teatro salientaram ainda que "apesar de longe dos palcos a partir dos anos 1980 do século passado", Mariana Rey Monteiro "nunca deixou de fazer parte do grupo dileto de actrizes que, pelo seu perfil humano e pela sua contribuição artística, elevaram o nosso teatro a níveis de qualidade inquestionáveis".
Luís Francisco Rebello: "A morte de Mariana Rey Monteiro comoveu-me profundamente. Fui seu amigo. Assisti em 1945 ao seu primeiro recital poético, e um ano depois à sua estreia na "Antígona" de Júlio Dantas. Acompanhei a sua brilhante carreira, aplaudi-a nas suas melhores interpretações, em textos clássicos de Shakespeare (Titânia de "Sonho de uma Noite de Verão"), Moliére (Maria do "Tartufo"), António Ferreira ("A Castro"), na Sónia de "Crime e Castigo", na Santa Joana de Bernard Shaw, na Blanche de "Um Eléctrico Chamado Desejo", nas "Divinas Palavras" de Valle-Inclán, no "Pecado de João Agonia" de Santareno, e tantas, tantas outras. Herdeira de um nome e tradição ilustres, a sua distinção natural, a sua abordagem ao mesmo tempo inteligente e sensível das personagens que encarnou, foram (são) uma referência importante do tempo do teatro português que antecedeu a revolução de 74. E não posso esquecer que Mariana fez parte do júri que, em 1942, me atribuiu o meu primeiro prémio de escritor teatral..."
José Wallenstein: "Para além da grande actriz que Mariana Rey Monteiro foi, eu também a recordo como uma pessoa muito gentil, muito afável e muito bem-educada, de uma grande elegância e delicadeza", diz José Wallenstein que com a actriz trabalhou nos ensaios para o espectáculo de despedida a Amélia Rey Colaço. "[Nessa altura] tive um contacto com um universo que para mim é de outro tempo e que para mim é um universo encantatório." O actor recorda ainda Mariana Rey Monteiro dentro do quadro familiar, uma família com quem privou muito proximamente, e que vê como pessoas "de uma grande cultura e de uma enorme delicadeza, uma gente de um outro universo", de um "teatro que vem de trás mas que apesar de tudo é meu património". E conclui: "Do ponto de vista histórico, aquela família foi muito importante na divulgação de uma dramaturgia."
João Lourenço: Lourenço, encenador e director do Teatro Aberto, recorda que a primeira vez em que contracenou com Mariana Rey Monteiro foi na peça "Processo de Jesus" de Diego Fabbri no Teatro D.Maria II, onde trabalharam juntos durante dez anos. Mas também se lembra das muitas vezes, depois disso, em que a actriz pisou os palcos do Teatro Monumental ou Maria Matos. "Ela fazia primorosamente uma peça que se chamava "E", com Paulo Renato". Para João Lourenço, a actriz para sempre será a Marianinha de quem o actor e encenador sempre foi muito amiga. "Gostava muito dela. Além de ser uma grande actriz e uma grande senhora, ela tinha uma humanidade muito grande." Um exemplo disso foi ter-se afastado do teatro para cuidar da mãe, a actriz Amélia Rey Colaço, que faleceu em 1990. "Eu devo tanto à minha mãe que não a posso deixar sozinha", costumava dizer.
João Perrry: João Perry trabalhou muitas vezes com Mariana Rey Monteiro. Mas a memória mais antiga que tem dela é dos anos 1940, mais precisamente de 1946, o ano da estreia da actriz na peça "Antígona", no Teatro Nacional D. Maria II. "Como eu não saía do teatro, lembro-me de ver a Marianinha, como lhe chamavam antes de ter feito a "Antígona". Na estreia dela eu devia ter uns sete ou oito anos e lembro-me de, no fim, lhe ter ido dar um ramo de flores que os meus pais tinham comprado." Terá sido, provavelmente, na peça "Tango" que os dois trabalharam juntos pela primeira vez, e Perry recorda-a sobretudo como uma pessoa "com um excelente feitio, encantadora no trato com os outros", uma colega "de quem só se pode dizer bem". E "surpreendente em certas personagens que interpretou".
Luís Miguel Cintra: "Tenho muito pena. Admiro-a como actriz. Era uma referência ainda viva da qualidade que havia na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, a companhia da mãe." Cintra contracenou uma única vez com ela, num filme de Paulo Rocha, "O Desejado ou as Montanhas da Lua". Ela, que tinha um grande respeito pela arte de representar, "é a grande herdeira de uma tradição teatral de muita qualidade". Essa tradição significa "um respeito pela arte do actor, uma atenção ao texto, um requinte na concepção dos espectáculos e também um respeito pelo público". Cintra lembra-se de a ir ver, enquanto estudante, ao Avenida, na peça "Equilibro Instável", de Edward Albee, no final dos anos 1960. "Ela recebia-nos no camarim, sempre afável e generosa."
Simone de Oliveira: A cantora e actriz Simone de Oliveira manifesta a sua mágoa pela perda de Mariana Rey Monteiro, que "admirava muito" como actriz e como mulher. Mas também pelo facto de o país a ter esquecido. "Ninguém quis saber dela, ninguém lhe mandou uma flor. E, no entanto, ela teve uma carreira extraordinária no teatro, e depois também na televisão". Simone de Oliveira, que no remake da telenovela "Vila Faia" retomou o papel da avó que tinha sido feito por Mariana Rey Monteiro na produção original, em 1983, lembra que a actriz agora desaparecida a ajudou muito nesse trabalho. E que ela lembrava que fora preciso ter feito esse papel para que o grande público finalmente a conhecesse como actriz. Simone diz também que Mariana Rey Monteiro "foi maltratada pelo país a seguir ao 25 de Abril [de 1974]". "Este país apaga e esquece os seus artistas, e isso significa apagar a sua memória colectiva. Quantos ministros da Cultura se lembraram dos nossos actores?", pergunta a intérprete de "Desfolhada".S obre a carreira de Mariana Rey Monteiro, Simone recorda principalmente o seu regresso aos palcos, depois do período em que esteve ausente. "Foi no Teatro Monumental, com a pela "É", de Millôr Fernandes. Eu cheguei lá com o Varela Silva e a Mariana chorava, sentada nas escadas de acesso ao palco, dizendo que não se lembrava do texto. Mas quando entrou em palco, a plateia levantou-se e aplaudiu-a em uníssono. E ela foi brilhante. A Mariana era belíssima em tudo", conclui Simone de Oliveira, que com ela contracenou, por exemplo, na série televisiva "Gente Fina É Outra Coisa".
Carmen Dolores: Das "muitas peças" que fizeram juntas no Teatro D. Maria II a partir de 1950 e durante oito anos, a actriz Carmen Dolores lembra-se da actriz Mariana Rey Monteiro como "uma pessoa extremamente profissional, uma actriz exemplar, com uma belíssima figura e de uma grande afabilidade e humildade". Uma actriz "muito reconhecida", sintetiza Carmen Dolores que não exclui que Maria Rey Monteiro tenha visto o seu grande valor abafado pelo facto de ser filha de uma grande actriz Amélia Rey Colaço. Mariana Rey Monteiro e Carmen Dolores contracenaram em "Tá-Mar" de Alfredo Cortês mas também em muitas outras peças como Inês de Castro em que Mariana Rey Monteiro foi protagonista e mais tarde uma outra versão Inês de Portugal em que a actriz fez de infanta.
Fonte: Público

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