quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porto protesta contra integração do Teatro S. João

Sob o lema "É nosso", o Teatro Nacional São João, no Porto, foi hoje, quarta-feira, envolvido num abraço colectivo de mais de um milhar de pessoas, em protesto pela integração da instituição na estrutura da OPART. Todos quiseram estar presentes no abraço pelo teatro: anónimos curiosos, elementos da equipa dos bastidores do São João, personalidades destacadas da vida cultural portuguesa (desde João Reis a Manuela Azevedo), representantes das outras instituições da cidade, como a Casa da Música, ou directores artísticos de festivais ou companhias teatrais. À frente do teatro nacional, tapado por andaimes que teimam em não desaparecer enquanto a fachada não tiver sido alvo de obras, crianças e idosos, pais e filhos, artistas e não artistas, gritaram em uníssono "O Porto não se vende" e pediram a demissão da ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas. A recusa em "ceder" à tentativa de centralização da instituição portuense que, caso se funda na OPART, passará a ser gerida a partir de Lisboa e perderá a sua autonomia, uniu cerca de 1200 pessoas num apelo colectivo, na tentativa de demover o Ministério da Cultura. "Pensar que este corpo perfeito, que tem uma cabeça que pensa bem, em que todos os membros funcionam ao mais ínfimo sinal, de repente vai ser desmembrado, com a cabeça a ir calhar não sei onde, com membros desse corpo a ser amputados com os cortes que se anunciam... E tudo isto para quê?", questionou Manuela Azevedo. A vocalista dos Clã, fã confessa do TNSJ, referiu que esta medida representa um retrocesso de décadas na cultura em Portugal, considerando que, com a integração na OPART, vai ser criado um "monstro". "A fusão pode abalar aquilo que o TNSJ, com a sua ambição de fazer muito pela vida cultural do Porto, muito pela vida cultural do país e por ter a ambição de sair fora de portas, conseguiu", disse ainda. Para Manuela Azevedo, todo o trabalho e ambição que o teatro portuense tem, de repente, pode ser perdida. "E isso também é perder dinheiro, é perder valor", acrescentou. Mário Laginha, em cena no TNSJ com o espectáculo "Sombras", defendeu que a instituição tem feito um trabalho ímpar na cidade ao longo dos anos. "Percebo que estamos todos em crise, mas que o São João perca autonomia... ele não merece isso, por tudo o que fez e o que tem feito e aquilo que tem ainda para nos dar", disse. O músico acredita que está em causa "uma morte artística de autonomia": "O São João é do Porto, pertence ao Porto". No entanto, apesar do número surpreendente de pessoas que aderiram ao movimento "Um abraço pelo teatro" (eram esperadas 200 manifestantes), foi notória a ausência do conselho de administração da instituição, assim como do seu director artístico, Nuno Carinhas. O dia de greve geral no Porto foi o dia do abraço colectivo de uma cidade a uma das instituições que faz parte do seu bilhete de identidade: o Teatro Nacional São João fez-se hoje ouvir, com uma dupla corrente humana a envolver o edifício, naquele que foi o maior movimento de cidadania da história do teatro.
Fonte: JN

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